Livros são a luz que guia a civilização.
Alphonse de Lamartine
Alphonse de Lamartine
Vi, de cá de fora, as luzes da biblioteca a apagarem-se – os segundos que antecederam esse momento pareceram-me de espera. Senti que lá dentro, nesse instante, a biblioteca se abria e as personagens de todas as histórias conviviam entre si.
Talvez isso explique que o mesmo livro, lido em diferentes alturas, possa parecer outro livro.
Carriço
Não deixes que te abandone o milagre de escrever.
Não deixes que a miséria do teu corpo escureça com a sua sombra a pequena luz da tua escrita.
Não deixes que o ódio, o desprezo, a ignorância alastrem com o seu veneno pela maior glória do que é a razão de estares vivo.
Vergílio Ferreira em Escrever
Os livros são perigosos: ateiam-nos fogo. Temíveis: por isso, são atirados ao fogo. Há uma relação íntima entre o livro, o fogo e as cinzas. Como a consciência de que o livro da nossa vida nos pode queimar. De que somos livro a ser escrito. Como um mapa aberto à viagem. A fazer-se e a desfazer-se.
De um monte de palavras ou imagens, dessa matéria, formar-se-ão outros livros possíveis, ainda por vir. Ou a reler. Desconhecidos. A biblioteca interminável de Babel. Tarefas infinitas, chamou-lhes Husserl, porque não se limitam ao tempo de vida de um indivíduo e são criação comunitária. O livro, a arte, o pensamento, a ciência. Vêm de longe e dirigem-se para longe.
Ao virar a página, no infinito obscuro da origem, dá-se uma explosão de luz que é o começo.
É muito bom escrever. Tem aquela coisa da descoberta, é um exercício de alteridade, compreende-se melhor o outro e compreendemo-nos melhor a nós. E o mais importante é o prazer. De repente, as palavras organizam-se, há uma luz ali, as personagens começam a desenhar uma história. É como ler. Mas sou eu que estou a fazer. É um duplo prazer. É um mundo que vai nascendo dentro de nós.
Mia Couto