Momento

Os melhores momentos de leitura ocorrem quando nos deparamos com alguma coisa – um pensamento, um sentimento, uma forma de ver as coisas – que achamos especial, que nos diz algo.

E ali está ela, escrita por outra pessoa, alguém que nunca conhecemos, talvez até há muito falecido.

E é como se esse alguém nos tivesse estendido a mão.

Alan Bennett

Escrita

Para os escritores, a escrita é um mecanismo para percebermos o que nos rodeia, uma forma de ordenarmos, acalmarmos e clarificarmos os pensamentos.

Rabiscamos inspirações súbitas, observações, ideias, porque acreditamos que as outras pessoas se identificarão connosco, compreenderão o que pensamos, acharão o mesmo que nós em relação a determinado assunto ou até – oh, que arrogância – tirarão partido daquilo que temos para contar. E porque é divertido.

Wendy Welch em A minha pequena livraria

Laço

E tem gente como eu: em qualquer fase da vida não abre mão, mas não abre mesmo, de ter sempre por perto o tal amigo pra valer: LIVRO. Mesmo porque ele é o único amigo que nunca cria caso para ficar com a gente, seja onde for: sala, quarto, banheiro, cozinha, sombra de árvore, areia de praia, fundo de sofá, fundo de mágoa; e fica junto da gente mesmo no pior lugar do ônibus, do trem, do avião; enfrenta até numa boa cadeira de dentista e leito de hospital.

E, se quem escreveu o livro consegue mexer com o nosso pensamento e balançar nossa imaginação – pronto! Aí se forma uma relação, um laço, que amarra pra valer quem escreve com quem lê.

Ler no comboio

Lygia Bojunga

O fogo e o livro por vir

Os livros são perigosos: ateiam-nos fogo. Temíveis: por isso, são atirados ao fogo. Há uma relação íntima entre o livro, o fogo e as cinzas. Como a consciência de que o livro da nossa vida nos pode queimar. De que somos livro a ser escrito. Como um mapa aberto à viagem. A fazer-se e a desfazer-se.

De um monte de palavras ou imagens, dessa matéria, formar-se-ão outros livros possíveis, ainda por vir. Ou a reler. Desconhecidos. A biblioteca interminável de Babel. Tarefas infinitas, chamou-lhes Husserl, porque não se limitam ao tempo de vida de um indivíduo e são criação comunitária. O livro, a arte, o pensamento, a ciência. Vêm de longe e dirigem-se para longe.

Ao virar a página, no infinito obscuro da origem, dá-se uma explosão de luz que é o começo.

fogo