Confiar

Escritores não confiam no mundo. Basta ler as suas obras para perceber o que não podem manter escondido.

E não confiar no mundo não é não confiar nas pedras, nas águas, nas árvores ou mesmo no fogo.

Por isso, a natureza de isolamento inegável do escritor. Natureza que, obviamente, ele trai, movido sabe-se lá por que esperança e, inúmeras vezes, apenas para confirmar a razão dessa natureza.

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Adriane Garcia

Voz

Em tempos como estes, de usura, há algo de inquietante e de escandaloso no mistério gratuito da poesia. Por que continuam os homens a escrever poesia? E por que continuam outros homens, desrazoavelmente, a escutá-la?

A poesia não tem respostas (às vezes, pobre dela, nem perguntas…), não oferece consolo, não promete coisa nenhuma. É apenas um fio de voz desprovido e solitário, vindo de lugares antiquíssimos dentro dos homens e persistindo obstinadamente no meio da vozearia do comércio e da gritaria dos media.

Que haja quem continue à escuta dessa longínqua voz pode significar que talvez haja esperança e que talvez, afinal, não sejamos inteiramente miseráveis.

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Manuel António Pina

Insipidez

O cérebro alimenta-se de informação; a alma, de afecto.

Vivemos na era da informação. Quando chegará a do amor?

Tenhamos esperança, e trabalhemos de mãos dadas para a construir.

E é tudo o que aprendo (e aprendi) na vida – quando, ao nascer do sol, te olho docemente.

De outro modo, é a banalidade das coisas e a insipidez dos seres.

António Coimbra de Matos