Caos 1

Vivemos à beira de um abismo que não é redutível… O caos de certa maneira revitaliza o cosmos, é uma fonte de energia, e é isso que o poeta sabe. Há uma dialéctica caos – cosmos em toda a obra de arte. O que há de execrável nas traduções ditas bem-feitas (“bem-feitas” para mim no mau sentido) é a abolição de todo o resíduo de caos que está sempre num bom poeta. Há sempre uma rouquidão no poema que é a voz do caos, da origem do combate que houve com a treva, com a imperfeição, com a desordem em que o poeta se afogou e de que emerge através do poema.

Pode dizer-se que escrevemos poesia para não nos afogarmos no caos – e na tradução “literária” tudo isso é abolido. Tal como é abolido nos poetas que copiam outros poetas, porque não escrevem a partir de um caos, mas a partir de um texto.

29-diniz

S. A.