Escolher

 

Li há uns dias que, em média, uma pessoa lê 6.000 livros ao longo da sua vida. Se escolher um livro já era uma tarefa difícil, não será este o argumento perfeito para que um leitor se sinta esmagado por tamanha responsabilidade?

Em tempos, forcei-me a ler livros de que não estava a gostar apenas porque sim. Porque precisava de terminar a leitura. Por orgulho. Não sei. Mas a minha to-read list estava a crescer a olhos vistos e sentia, se assim que pode dizer, uma tensão crescente. Proporcional ao crescimento da minha lista.

Será possível que uma pessoa se pode sentir tão pressionada para fazer boas escolhas? Talvez isto seja o Preço Certo dos leitores: escolhe bem. Não perderás dinheiro (ou talvez sim) nem um grande prémio (quem sabe?), mas garantidamente perderás tempo. Se escolhes este livro em detrimento daquele, poderás estar a errar o alvo. Podes não estar a aprender aquilo que precisas mesmo de aprender neste exacto momento da tua vida. Podes estar a escolher um que não te satisfaz e, por isso, terás de passar por este mesmo processo daqui a uns dias. Habitua-te, és leitor.

Não fosse já suficiente esta pressão do leitor viciado, agora vê-se frente-a-frente com a pressão dos pressões: conta o teu tempo. Tens um saldo de 6.000 livros. Ou talvez ainda menos, meu amigo, se só lês 12 livros por ano. Isso significa que o teu saldo é ainda mais baixo e que isso te reduzirá ainda mais o número de livros que efectivamente lerás o que, então, é inversamente proporcional ao leque de livros que tens à disposição: numa livraria, numa tarde, são milhares de títulos. Ao final desse ano, esse número ter-se-á multiplicado sabe-se lá por quanto. E falamos apenas da tua livraria. Não estamos a considerar os outros milhares e milhões de títulos que estão e virão a ser trabalhados por escritores e editoras em todo o mundo, no tempo em que estás e que aí vem.

Por isso tem cuidado, caro leitor, porque tens uma grande responsabilidade: escolhe bem e sensatamente e faz bom uso das tuas leituras. Afinal, 6.000 livros é muito pouco. E mesmo que fosse apenas um: o que lermos tem de nos fazer a diferença.

biblos

djamb

Obra-prima

Aquilo que nos deve importar não é termos lido e conhecer  o mais possível mas sim, através de uma escolha livre e pessoal de obras-primas às quais nos dedicaremos plenamente nas nossas horas livres, fazermos uma ideia da grandeza e da abundância daquilo que o homem pensou e desejou, e de nos situarmos numa relação de vivificante conformidade com a vida e com o pulsar da humanidade.

resistência

Hermann Hesse