Abriu o livro e, ao fazê-lo, ele deixou de ser seu.
Deixou os dedos folhearem-no e sentiu um formigueiro na pele, como se aquelas páginas estivessem vivas.
John William em Stoner
Abriu o livro e, ao fazê-lo, ele deixou de ser seu.
Deixou os dedos folhearem-no e sentiu um formigueiro na pele, como se aquelas páginas estivessem vivas.
John William em Stoner
“E para ele prolongar mais um pouco a conversa, pergunta-me o que tenho no bolso. Um livro, digo. Qual? Um usado, leio livros em final de exercício. Porquê? A mão dele vai ao bolso do meu casaco, mas não tira, sopesa.
Leio os usados porque as páginas muito folheadas e engorduradas dos dedos pesam mais nos olhos, porque cada cópia de livro pode pertencer a muitas vidas e os livros deviam ficar esquecidos nos lugares públicos e deslocar-se com os passantes que os levam consigo por um pouco. Deveriam morrer como eles, consumidos por doenças, infectados, afogados ponte abaixo com os suicidas, enfiados num aquecedor no inverno, rasgados pelas crianças para fazer barquinhos, em suma deveriam morrer em qualquer lugar mas não de tédio e de propriedade privada, condenados a uma prateleira pela vida toda.”
Erri de Luca em Três cavalos